Recolhido na Penitenciária Federal de Mossoró, um chileno acusado de participação no sequestro do publicitário Washington Olivetto reclamou das condições da prisão à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CDHI) e pediu transferência da unidade.
Segundo matéria do site Opera Mundi, pubicada no último sábado (26), desde 2002, Maurício Norambuena está em um verdadeiro círculo vicioso jurídico. Condenado à 30 anos de cadeia – pena máxima permitida pelas leis brasileiras -, está, atualmente, no presídio potiguar, depois de ter passado pelas penitenciárias de Porto Velho (RO), Presidente Bernardes (SP) e Catanduvas (PR), sempre em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) ou em situação análoga.
A defesa pede, agora, que a CIDH interfira na situação para que ele seja, ao menos, transferido de presídio. A reportagem traz que já há um pedido de extradição de Norambuena aprovado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2004, e que em 2007, o Ministério da Justiça decidiu pela expulsão, com base no Estatuto do Estrangeiro vigente à época (a lei foi alterada em 2017).
"No entanto, duas condenações à prisão perpétua, ainda em disputa na Justiça do Chile, impedem que a ida de Norambuena seja cumprida, dado que o Brasil não extradita estrangeiros que estejam condenados à morte ou à prisão perpétua em outros países", pontua a matéria, informando que a defesa do chileno entrou, então, com uma reclamação no STF, dizendo a expulsão determinada pelo Executivo era irregular.
Ainda de acordo com a reportagem, conforme os advogados de Norambuena, já havia um pedido de extradição aprovado pelo próprio Supremo - que só não estava sendo cumprido por causa da pena a que ele havia sido condenado no Chile. O ministério, por sua vez, reconheceu a questão e sugeriu que Norambuena fosse expulso para um dos países do Mercosul – ou seja, uma terceira nação fora do imbróglio entre Brasil e Chile.
A matéria ressalta que Norambuena tem direito, desde janeiro de 2011, a progredir ao regime semiaberto e, desde 2014, ao aberto; e que em 2016, o juiz federal Walter Nunes da Silva Júnior não autorizou a mudança na pena, sob a justificativa de que “o preso poderia fugir” para um país sem acordo de extradição com o Brasil, por exemplo. "Em julho de 2017, mais uma decisão do mesmo juiz renovou a prisão de Norambuena em um presídio federal – o próprio magistrado falou em 'excepcionalidade da excepcionalidade' para manter o preso em uma instituição da União", pontuou a reportagem.
A mtéria detalha que em Mossoró, o chileno fica em uma cela de 3 x 2 metros e tem direito a duas horas de banho de sol; que os irmãos podem visitá-lo por um período máximo de 3 horas; que ele não tem acesso a jornais, revistas ou TV, tampouco contato com outros preso; e que o único vínculo que tem com o exterior são os livros (um por semana) que são autorizados a entrar no presídio após o aval da direção do local.
"Dada a situação sem perspectiva, a defesa de Norambuena pediu à CIDH uma medida cautelar para que o preso seja, ao menos, transferido – para a Papuda, em Brasília, ou para uma penitenciária em Itaí (SP) na qual já estão outros estrangeiros presos. Ambos são de administração estadual. Se não for possível, diz o advogado Antonio Fernando Moreira, pede-se que Norambuena seja enviado a um presídio escolhido pela Comissão", informa a reportagem.
Sequestro
Em 2001, Norambuena estava no Brasil e participou do sequestro de Olivetto. Após mantê-lo em cativeiro por 53 dias, a operação foi desbaratada pela polícia e o chileno foi preso em um sítio em Serra Negra (SP). Apesar do componente político da ação, a Justiça brasileira analisou o caso como um sequestro comum. O planejamento do sequestro levou quase um ano e permitiu que os autores conhecessem a rotina de Olivetto. No dia 11 de dezembro de 2001, os sequestradores criaram uma falsa blitz policial na saída da agência do publicitário.
O carro dirigido pelo motorista de Olivetto foi parado. O publicitário foi levado para um cativeiro no bairro do Brooklin, zona sul de São Paulo. O resgate serviria supostamente para financiar as atividades de uma fração do MIR (Movimento Esquerda Revolucionária) chileno. A libertação aconteceu mais de 50 dias depois, sem que se conseguisse o dinheiro.
Contato com a irmã
“No Brasil, as condições não melhoram. Os juízes argumentam que existe uma extradição aprovada e que, por isso, ele deve seguir em regime fechado.” As palavras de Laura Norambuena dão um bom resumo da situação do irmão dela. Laura o visitou em Mossoró no último dia 10. “Ele ficou muito chateado pelas notícias do Chile, de que seu caso não avança definitivamente. Tem como esperança os amigos que podem ajuda-lo no Brasil”, disse.
Revolucionário
Maurício Norambuena é um líder histórico da esquerda chilena e fez parte de um dos grupos que pegou em armas para lutar contra a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Membro da Frente Patriótica Manuel Rodríguez (FPMR), o 'comandante Ramiro', como é conhecido, já foi preso pela acusação de matar um aliado do ex-ditador - para depois fugir da cadeia de maneira espetacular. Em 1986, participou do atentado fracassado contra Pinochet.
Tags: