Por Amina Costa // Repórter do JORNAL DE FATO
Em Mossoró, são muitas as pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social que, por falta de emprego, acolhimento familiar e perspectiva de vida, acabam morando nas ruas. A vida dessas pessoas se torna ainda mais difícil, uma vez que elas não dispõem do mínimo de higiene e alimentação, e acabam tendo que recorrer aos vícios ou à criminalidade.
Com o objetivo de dar maior qualidade de vida para as pessoas que vivem nessa situação, o grupo de voluntários que integra o projeto Dom de Amar está arrecadando alimento, brinquedos e itens de higiene pessoal que serão doados durante o Natal Solidário, que irá acontecer no dia 15 de dezembro. Neste ano, o projeto realizará outra ação, com um Almoço Solidário na Comunidade Rural Cheiro da Terra, no dia 19 de dezembro.
O grupo de voluntários atua nesta causa desde 2019. Na época, as ações eram feitas mensalmente, sempre às quartas-feiras, na Praça Antônio Vigário Joaquim, popularmente conhecida como a “Praça da Catedral”. Mas, devido à demanda e ao aumento das pessoas em situação de vulnerabilidade, o período de oferta do alimento passou a ser semanal.
Com ajuda de voluntários e das doações, o grupo recebe, a cada encontro, cerca de 30 pessoas. Para muitos daqueles que estão recebendo as refeições, aquele é o único alimento ingerido durante todo o dia. A coordenadora do projeto Dom de Amar, Alcivaneide Morais, explica que a atuação do grupo é um alento para as pessoas que estão em situação de vulnerabilidade.
“Chegar à praça e deparar com realidades tão diversas causa, primeiramente, um choque. De início, conversamos, aconselhamos, buscando conhecer a trajetória e humanizar cada pessoa ali presente. Para eles é uma porta de esperança; para nós voluntários, é uma missão”, defende.
Com a proximidade das datas das ações, o grupo, que já conta com 40 voluntários, está intensificando os pedidos de doações para poder proporcionar uma alimentação digna para as pessoas beneficiadas. A coordenação do projeto explica que, ao todo, mais de 350 pessoas serão beneficiadas com as duas ações.
“No jantar solidário, serão entregues às pessoas em situação de rua, mais de 70 kits de higiene pessoal (compostos por creme dental, shampoo, sabonete, prestobarba, desodorante e escova de dente). No almoço a ser promovido na comunidade Cheiro da Terra, mais de 70 famílias receberão uma cesta básica; 50 crianças ganharão brinquedos, além do almoço para mais de 250 pessoas”, informa a coordenadora do projeto.
Os alimentos que estão sendo arrecadados pelo grupo incluem arroz, feijão, macarrão, frutas e legumes para a preparação de sopas, além de alimentos perecíveis, como ovo, frango, carne, entre outros. Além disso, também devem ser distribuídos sucos, leite, café e agua.
Todo o material, incluindo descartáveis aonde é servido o alimento, gás de cozinha, insumos para produção do jantar, vem da contribuição mensal no valor de R$ 30,00 (dos integrantes fixos) e da colaboração oriunda de empresas e pessoas da sociedade civil.
Para colaborar, a coordenadora do projeto, Alcivaneide Morais, disponibiliza o PIX, (cuja chave é o e-mail: doacoesdomdeamar@gmail.com), e pede a contribuição de qualquer valor; ou, a doação de qualquer item de higiene pessoal, brinquedos e alimentos não perecíveis.
Os itens podem ser entregues às quartas, durante o jantar solidário, na Praça Antônio Vigário Joaquim. Caso o doador não tenha como entregar, pode entrar em contato pelo perfil do Instagram do projeto Dom de Amar (@_ domdeamar _), e o grupo realizará a coleta dos itens.
Atualmente, mais de 450 pessoas em situação de rua são acompanhadas pelo Serviço de Abordagem Social (SEAS), serviço vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. Esse acompanhamento, segundo a Secretaria, é feito de forma diária, por meio de rondas noturnas. Nas rondas, as equipes acolhem as pessoas, verificam a documentação e fazem a atualização no sistema.
Ainda de acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social, diariamente, são distribuídas 50 alimentações para os moradores em situação de rua. Esses moradores são monitorados também pelo plantão social, que é um equipamento localizado no centro da cidade. Em casos extremos de vulnerabilidade, eles são encaminhados para as equipes do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), para acompanhamento.
MP emite recomendação visando reduzir o número de pessoas em vulnerabilidade
Com o objetivo de evitar que o número de pessoas em situação de vulnerabilidade aumente, em Mossoró, o Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN), por meio de uma ação conjunta da 2ª Promotoria de Justiça (Cidadania e Direitos Humanos) e da 12ª Promotoria de Justiça (Infância e Juventude), recomendou que sejam destinados recursos para investir no serviço de acolhimento de jovens entre 18 e 21 anos.
De acordo com o que apurou o MP, muitas das pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social tiveram infâncias e juventudes marcadas pelo abandono ou por violações. O órgão ministerial cita o caso de um jovem chamado Fernando, que aos 17 anos foi resgatado das ruas e acolhido para um abrigo de adolescentes em Mossoró.
Como a cidade não tem um serviço voltado para o acolhimento de jovens entre 18 e 21 anos, o MP informa que o jovem retirado das ruas foi desligado da instituição ao completar a maioridade e, diante da falta de suporte e de assistência social, foi encontrado morto, aos 21 anos. A recomendação do MP prevê que histórias como essa não se repitam e que os jovens tenham toda a assistência, evitando que eles fiquem nas ruas ou entrem para a criminalidade.
Por isso, o MPRN recomendou ao prefeito de Mossoró e aos conselhos Municipal da Criança e do Adolescente (Comdica) e Municipal de Assistência Social, que sejam criadas políticas públicas para essas pessoas.
Para o prefeito de Mossoró (e o secretário municipal de Assistência Social e Cidadania), o MPRN está recomendando esforços para a promoção de medidas legislativas e orçamentárias para a criação de programa específico voltado à implementação de serviço de
acolhimento de jovens adultos (de 18 a 21 anos cujos vínculos familiares estejam rompidos, egressos ou não das unidades de acolhimento de crianças e adolescentes de Mossoró).
Já para o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Mossoró e o Conselho Municipal de Assistência Social, a orientação é que, no exercício do controle social que lhes cabe, deliberem sobre essa demanda.
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