Quinta-Feira, 27 de fevereiro de 2025

Postado às 08h45 | 25 Jan 2021 | Redação Cobertura vacinal contra o sarampo foi de 55% em 2020 e casos aumentam

Crédito da foto: Reprodução Sarampo volta a ser uma ameaça no País

Por Amina Costa - Repórter do JORNAL DE FATO

Em 2016, o Brasil recebeu o certificado de erradicação do sarampo, concedido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Três anos depois, o país perdeu o status, depois de mais de 12 meses de incidência de casos confirmados do mesmo vírus. A situação é grave e os dados são preocupantes, com a confirmação de mais de 9 mil casos de sarampo, somente no ano de 2020.

Especialistas informam que a queda nas taxas de vacinação é a principal causa para a volta do sarampo no Brasil, já que esta é a única forma de prevenção à doença. Para manter a doença sob controle, a cobertura vacinal da doença deve estar acima de 95%. De acordo com a OMS, a taxa de cobertura da primeira dose da vacina está estagnada globalmente há mais de uma década, entre 84% e 85%. Já a da segunda dose está em 71%. 

A queda na taxa de vacinação vem sendo registrada em todo o país e está preocupando as autoridades sanitárias. Em Mossoró, o coordenador do Setor de Imunizações da Secretaria Municipal de Saúde, Etevaldo Lima, explica que essa queda na cobertura vacinal vem ocorrendo desde o ano de 2018, por vários fatores, entre eles a mudança de sistemas de contagem das doses e pela sensação de imunidade por parte da população.

O primeiro ponto levantado por Etevaldo Lima para justificar a queda na cobertura vacinal em Mossoró diz respeito ao próprio sistema de contagem das doses. Segundo o coordenador do setor de imunização, desde o ano de 2018 que o sistema de contagem das doses aplicadas vem sendo alterado. Essa alteração vem implicando na contagem das doses e, dessa forma, interferindo no percentual da cobertura vacinal.

“Em 2018, a cobertura foi completa para todas as vacinas ofertadas pela rede de imunização. No início de 2019, ocorreu a primeira mudança no sistema e no final do mesmo ano passamos a utilizar o sistema eSUS. A atualização dos dados desse sistema é bastante lenta, tanto que, para ter uma ideia, as vacinas que foram aplicadas até o dia 31 de dezembro têm até 60 dias para entrar no sistema. Por esse motivo, os dados podem mudar a qualquer momento”, explicou Etevaldo Lima.

Diante desta lentidão no sistema, ele informou que os dados que constam no Setor de Imunizações são de que Mossoró fechou o ano de 2020 com 55% da cobertura vacinal da vacina tríplice viral, que protege contra o sarampo, a caxumba e a rubéola. “Temos que aplicar 3.941 vacinas em crianças de um ano a menores de dois anos. Em 2020, segundo os dados atuais do sistema, foram aplicadas 2.118 doses, que corresponde a 55,52% do total. Temos que lembrar que, devido à lentidão do sistema, esse percentual pode aumentar nos próximos meses”, explica.

Mesmo com toda a questão que envolve o sistema de contagem das doses aplicadas, Etevaldo Lima explica que a cobertura vacinal foi baixa, se comparada aos anos anteriores. Enquanto que em 2018 o Município conseguiu atingir sua meta de vacinação, em 2019 e 2020, as campanhas não tiveram o êxito esperado.

Esta queda na imunização contra o sarampo é preocupante, já que os casos tendem a aumentar. “As pessoas acham que estão imunes ao vírus do sarampo, mas elas não estão. É preciso manter o ciclo de imunização para evitar que o vírus se desenvolva num maior número de pessoas. Além de problemas no sistema, ainda temos que tirar a ideia das pessoas de que elas não precisam manter o ciclo das vacinas”, enfatiza Etevaldo Lima.

Pandemia também interferiu na queda da cobertura vacinal

A pandemia do novo coronavírus interferiu consideravelmente na queda da cobertura vacinal contra o sarampo e outras doenças, que podem ser evitadas com a aplicação das vacinas. De acordo com o coordenador do Setor de Imunizações de Mossoró, Etevaldo Lima, muitas pessoas ficaram com receio de ir até os postos de saúde para tomar as vacinas que são ofertadas pelo SUS e, algumas ainda começaram a questionar a eficácia destas vacinas.

“As chamadas fake News afetaram bastante as campanhas de vacinação que ocorreram durante a pandemia. As vacinas, tanto a da covid-19, que foi recentemente aprovada pela Anvisa, como as demais, que já fazem parte do calendário de vacinas, são completamente seguras e importantes para o nosso país. Existem doenças, como o sarampo, que só são evitadas com as vacinas, por isso a importância de manter a carteira de vacinação em dia”, argumentou o coordenador do setor.

Etevaldo Lima informou ainda que fica triste e preocupado com os números que refletem a baixa cobertura vacinal do sarampo e do HPV, e de outras doenças. Ele fala ainda que o Brasil é o país que tem o melhor programa de imunização e que tem um sistema público que distribui as doses para a população. “Eu vejo com o olhar triste a baixa cobertura, o Brasil tem o melhor programa de imunizações. A população tem vacina disponível pelo SUS contra sarampo, HPV, gripe, agora a covid-19”.

“Mesmo com a pandemia, as pessoas não devem deixar de se vacinar, porque quando deixamos de vacinar, os vírus retornam, como é o caso do sarampo. É importante se vacinar todos os anos para manter o controle do vírus. Tenham a consciência da importância da vacina, que é distribuída de forma gratuita. As vacinas são produzidas com base em vários critérios científicos. Diante da pandemia, a população tem que ter a consciência de se vacinar. Lembrar que existem outras vacinas, porque embora as atenções estejam voltadas para a covid-19, existem muitas doenças circulando pelo país”, finalizou Etevaldo Lima.

Tags:

Mossoró
sarampo
vacina
saúde pública
Rio Grande do Norte
Brasil
OMS

voltar